Consumidores migram para opções naturais, e o modelo industrial das grandes marcas começa a ruir diante da nova consciência alimentar.
O império dos alimentos ultraprocessados está cambaleando. A Nestlé — símbolo máximo da indústria global de alimentos industrializados — anunciou que pretende dispensar 16 mil funcionários em todo o mundo nos próximos dois anos.
O comunicado veio acompanhado dos resultados do terceiro trimestre, que mostram queda de 1,9% nas vendas, para 71 bilhões de euros.
“O mundo evolui e a Nestlé tem de se adaptar mais rapidamente”, afirmou Philip Navratil, presidente austro-suíço da multinacional, que assumiu o comando em setembro. A frase soa como uma admissão pública de que o modelo que dominou o planeta nas últimas décadas começa a dar sinais de exaustão.
Com mais de duas mil marcas no portfólio — entre elas Nescafé, Maggi e KitKat — a empresa passa por um período turbulento. Setembro foi marcado por trocas no alto escalão: saíram o diretor-geral Laurent Freixe e o ex-presidente Paul Bulcke, em meio à maior reestruturação de pessoal desde 2008.
Mas a Nestlé está longe de ser um caso isolado. A “evolução dos hábitos de consumo” ameaça o coração das Big Food, as megacorporações que moldaram o padrão alimentar global.
Segundo o portal Axios, o avanço dos medicamentos para perda de peso — especialmente os à base de GLP-1, como Ozempic e Wegovy — já está reduzindo a procura por produtos ultracalóricos e industrializados. Ao mesmo tempo, cresce a busca por alimentos frescos, locais e sem aditivos.
A Kraft Heinz é outro exemplo do terremoto em curso. No mês passado, a empresa anunciou sua divisão em duas companhias independentes: uma dedicada a condimentos e alimentos de conveniência (como ketchup Heinz e queijo Philadelphia) e outra voltada a itens básicos (Oscar Mayer, Kraft Singles e Lunchables).
Essas decisões refletem o abandono gradual dos processados e a pressão combinada de três fatores:
Mudança de comportamento dos consumidores;
Revolução dos fármacos contra obesidade;
Custos crescentes de insumos e commodities — como o cacau, que atinge recordes históricos.
O que está em jogo é o futuro de um modelo alimentar baseado em escala, açúcar e conveniência.
E, pela primeira vez, os gigantes parecem não ter o apetite do público ao seu lado.
No próximo artigo: “O império dos ultraprocessados: como as novas gerações estão mudando o cardápio do planeta.”